Apesar de muitos anos de tratamento contra Transtornos de ansiedade, Síndrome do Pânico e Transtorno Bipolar, sempre me mantive bem controlada somente com medicação.
Minha condição se agravou quando após sofrer horrores com assédio moral na empresa onde eu trabalhava (ou trabalho, porque estou afastada por conta da doença), perdi minha sogra de apenas 56 anos por negligência médica. Me vi no olho do furacão. Vieram a depressão e auto-mutilação constantes, apesar da medicação. Em um dia de muito stress tive um ataque nervoso em pleno trabalho, o que levou meu marido a me conduzir até uma consulta de emergência no Hospital Psiquiátrico Bom Retiro, único local com pronto atendimento psiquiátrico disponível.
Após a consulta a médica de plantão recomendou a internação. Vale ressaltar que eu não era obrigada a aceitar, mas reconheci que naquele momento eu era um risco pra mim e para as outras pessoas.
Pois foi feito. Retiram todos os objetos como jóias, relógios e principalmente celulares - o que eu acho um horror, porque a falta de comunicação com o mundo acaba gerando ainda mais ansiedade. Eu, sendo paciente de convênio fiquei na ala particular, que é dividida em 2 pavilhões: masculino e feminino. São poucos pacientes, cerca de 30 em cada uma. O volume maior está nas alas do SUS. Quartos com banheiro, uma boa sala de TV e bom material para leitura. Apenas um telefone público para o hospital inteiro, com filas quilométricas, que só pode ser usado das 7:30 às 19:00h, por apenas 3 minutos, horário em que as alas estão abertas e a circulação é livre. Os pacientes do SUS e da ala particular circulam livremente no pátio, podendo interagir entre si. No SUS normalmente há os pacientes mais crônicos, com alguns casos de pessoas que estão lá há anos.
A comida é razoável para a ala particular/convênio, com café da manhã às 7:30, almoço às 11:00, lanche da tarde às 15:00, jantar às 18h e ainda tem um chazinho com bolo às 20:30.
Não se pode usar maquiagem, jóias, aparelhos eletrônicos, roupas ou calçados com cordões ou cadarços. Cada paciente tem um armário ao estilo armário de vestiário, com cadeado, onde se pode guardar as roupas e objetos de higiene pessoal. Dispomos de secadores de cabelo e um pequeno aparelho de som, que pode ser usado em horários determinados. TV somente até às 22h. Não é permitido fumar.
A enfermagem lá é fantástica, depois que você adquire a confiança delas pode-se ter algum acesso a pinça, lixa de unha, papel e caneta.
Temos atividades de música, palestras com voluntários (que eu particularmente adorava, pois cada um pode falar um pouco de si e seus problemas), há o SAE - serviço de assistência espiritual que funciona em 2 horários todos os dias.
Consulta com o psiquiatra temos 1x por semana, 2x com a psicóloga, 2x terapia ocupacional, sendo que em uma delas há o espaço de "auto-cuidados", onde se pode fazer as unhas com supervisão.
As visitas são 3x por semana, sendo que em dois desses dias há o atendimento do familiar pela psicologia, explicando a evolução do paciente.
A alta não pode ser pedida pelo paciente, somente pelo responsável pelo internamento, que no meu caso, foi meu marido (chamada de alta pedida) onde se perde os direitos de continuação do tratamento fora do hospital e laudo para o INSS.
A alta médica (dada pelo hospital) envolve os atestados, laudos, prontuários e encaminhamento para o tratamento em "regime aberto".
A grande maioria das internas da minha época era de depressivas e bipolares (a maioria suicida) com poucos casos de dependência química ou alcoolismo. Muitas estavam lá pela segunda, terceira, ou até oitava vez. Há também quem saia e não necessite de retorno.
Minhas fontes de distração nos horários livres eram TV, livros e crochê, que após ganhar a confiança da assistente social obtive o direito de fazer, mas somente diante do posto de enfermagem.
Há ainda um quarto de contenção, para os pacientes que oferecem risco a si ou aos outros. Sim, vi pacientes serem contidas, amarradas, sedadas.... mas para seu próprio bem, e tudo é feito com muito cuidado.
Foi o mês mais longo de minha vida.... longe do meu marido, meus filhos, meus amigos... Mas precisava disso. Não que eu não tenha recaído feio depois, mas isso já é outra história...
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